Heidi, esse é o nome de um desenho animado que passa em um dos canais da televisão francesa. Quase todos os dias ligo a televisão para educar meu ouvido com a língua. E em um desses dias, descobrimos esse desenho encantador. Logo, fiquei apaixonada!
Heidi é a história de uma menina que vive com o seu avô em um vilarejo nos alpes suíços. Ela simplesmente adora a vida que tem nesse vilarejo. Ela brinca, corre, "fala pelos cotovelos" com o seu avô, ajuda a cuidar das cabras, e não só cuida, conversa com elas e com a natureza a sua volta.
Hoje, assisti a um episódio que me emocionou muito. Em um dado momento, a pequena menina foi morar na cidade, e lá aprendeu a ler, pois no vilarejo não havia escola. Mas ela vivia muito triste, sempre chorando querendo voltar para o vilarejo, e então, voltou! E quando voltou, ela quis sentir cada cheiro, o gosto do leite de cabra, o queijo quente com pão que o avô fazia, foi reencontrar com as cabras (essas davam "pulos", de felicidade quando a viram), reencontrou com o amigo e foi procurar sua cama de feno no andar de cima da cabana. No episódio de hoje ela assistiu ao nascimento de um filhotinho de cabra e foi ler para uma anciã do vilarejo.
Mas vocês devem estar se perguntando: o que esse desenho tem a ver com educação integral e sustentabilidade?
Bom, esses dias em Paris, indo aos parques e jardins, observando a beleza dos mesmos, tem me levado a refletir sobre a nossa relação com o mundo a nossa volta, principalmente com a natureza. Esta, é de uma complexidade imensurável e de uma beleza inefável. Essas observações sobre a nossa ligação com essa natureza tão complexa e de como precisamos dela me levou a algumas leituras. Lembrando de alguns textos da faculdade e lendo alguns artigos sobre educação aqui na França, descobri que não estava ficando biruta. Ufaaa! Será??
EDGAR MORIN*, em seu livro Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro (2006), escreve:
O racionalismo que ignora os seres; a subjetividade, a afetividade e a vida, é irracional."
A educação do futuro " deve colocar em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano."
Assim como uma árvore, não é uma árvore sem os seus galhos, folhas e flores, sementes, caule..., assim também não existimos sem o oxigênio que elas ajudam a liberar, sem a sombra que ela nos dá, enfim, sem a sua presença. Não somos, não existimos sem nos relacionarmos com o outro (sociedade, família, amigos, natureza, etc).
DANIEL BECKER* (vale muito a pena entrar no site dele), um renomado médico que trabalha com a denominada pediatria integral escreve em seu site:
A abordagem integral deve ter uma forte relação com a questão ambiental.
Ele trata sobre várias questões envolvendo crianças e adolescentes a partir de um olhar mais holístico e integral. Alimentação, consumismo, natureza, obesidade infantil, dentre outros.
Ele aponta uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria e a Datafolha em que eles chegaram à conclusão de que a criança prefere brincar e inhttp://youtu.be/l3zzk4Xx6AYteragir com outras crianças de verdade, do lado de fora, que elas são "muito felizes" ou "felizes" quando brincam e convivem com a família e os amigos. Confira o texto no site:
http://www.pediatriaintegral.com.br/crianca-prefere-brincar-la-fora-e-com-outras-criancas-de-verdade/
ANGELA ANTUNES E PAULO ROBERTO PADILHA, no livro Educação Cidadã, Educação Integral: fundamentos e práticas, disponível no site:
http://www.acervo.paulofreire.org/xmlui/handle/7891/3077#page/2/mode/1up, relata que
educar integralmente o cidadão e a cidadã, significa, pois, prepará-los para uma vida saudável e para a convivência humanizada, solidária e pacífica (pág. 17).
Eles citam Paulo Freire: A escola cidadã é uma escola de comunidade, de companheirismo.
E deixam um recado para os educadores:
Será que nós, educadores, temos criado situações temporais e espaciais para pensar nessas questões na nossa vida cotidiana? Ou, até pensamos, mas já nos rendemos à rotina, à fragmentação da sociedade moderna, ocidental, neocapitalista e globalizada, que nos impõe um ritmo frenético de trabalho, de falta de tempo, de ausências de afeto, de carinho, de amorosidade, de solidariedade, de sonhos compartilhados, ...deixando-nos levar pelo isolamento, pelo individualismo, pela competição exacerbada, pela naturalização do que não deveria ser natural - por exemplo, o descaso com a coisa pública, a falta de ética e de estética, a falta de cuidado e de solidariedade , até mesmo a falta de cuidado com a própria saúde, o excesso de cuidado com o corpo e a busca incessante por relações virtuais, internéticas e descartavéis!? (págs. 15 e 16).
Bom, agora chega de ficar citando tanta gente. Eu quero perguntar:
"Cadê" desenhos como o do Capitão Planeta na TV brasileira????
Eu estou meio desatualizada sobre como andam os programas infantis aí no Brasil, mas já ouvi muitas reclamações. Desenhos de luta, vingança, com armas de fogo? Me deem um feedback por favor!
Aqui, pelo pouco que vi em televisão aberta, tem pouquíssimas propagandas destinadas ao público infantil. E como li em um dos artigos sobre comunicação e infância, relata-se que no Brasil, foi a partir da década de 70 e 80, coincidindo com o fato de que a maioria das crianças vivem em zonas urbanas e por isso têm mais acesso a meios de comunicação e tecnologias, que começou-se a ver a criança com um novo papel de consumidor ativo.
Aí eu reflito....
Acho que estamos precisando aprender com a pequena menina de Heidi!!!
Para quem tiver curiosidade, assistam em:
http://www.youtube.com/watch?v=l3zzk4Xx6AY&feature=youtu.be
Para quem tiver curiosidade, assistam em:
http://www.youtube.com/watch?v=l3zzk4Xx6AY&feature=youtu.be
Um grande abraço e reflexões para todos nós!!
FOTOS: Henrique Pederneiras e Fernanda Araujo
* EDGAR MORIN: http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Morin
* DANIEL BECKER: http://www.pediatriaintegral.com.br/curriculo/